Segunda-feira, 05 de janeiro de 2009. 10 da manhã. Os painéis do aeroporto de Glasgow anunciam a abertura do Check-in para os passageiros do voo Ryanair 7924 com destino ao aeroporto de Charleroi, na Bélgica. Depois de ser submetido aos criteriosos procedimentos de segurança que antecedem o embarque, às vezes exagerados até demais, eu e os outros 189 passageiros seguimos para o portão de embarque até que fosse confirmado o horário do voo, previsto para o meio-dia.
Meio-dia e meia. Os painéis informam atraso do voo 7924 e sinalizam que o embarque fora adiado por uma hora. Pontualmente, a uma da tarde é feito o embarque de todos os passageiros do voo e o avião decola rumo a Bélgica. O tempo estimado de voo entre a Escócia e a Bélgica é de uma hora e trinta minutos. No entanto, o voo programado para a tarde do dia 05 foi de quatro horas, com uma conexão imprevista num aeroporto francês.
Tudo na viagem seguia bem até o início da venda do Bingo Ryanair. É típico nos voos das companhias Low Cost da Europa a comercialização de vários produtos durante o itinerário aéreo. Durante os voos, de tudo um pouco é vendido. Após o lanche, que também é comprado pelo passageiro, começa a venda de perfumes, cremes e bilhetes da sorte. Enquanto uma gravação hiper-animada falava sobre o valor dos prêmios em dinheiro que poderiam ser ganhos com a compra da cartela, um comissário de voo passava sorridente pelo corredor da aeronave ofertando os bilhetes.
O comissário ainda nem havia chegado no meio da aeronave quando todos sentiram as primeiras turbulências. A chefe de voo informou se tratar de uma área de instabilidade e orientou a todos para que permanecessem sentados e com os cintos afivelados. A orientação foi seguida, mas as trepidações começaram a ser frequentes e com mais intensidade. Olho pela janela. Estávamos sobrevoando a uma elevada altitude que era possível ver as nuvens em baixo do Boeing. O avião passa a perder estabilidade. Olho para o outro lado e vejo que os demais passageiros perceberam algo de anormal no voo. As trepidações eram tão fortes que parecíamos estar dentro de um "chocalho".
Da cabine, o piloto reforça a orientação de permanecermos sentados e com os cintos de segurança. Ele apenas introduz uma nova palavra durante a fala. Ele pede calma aos passageiros. Algumas pessoas começam a se desesperar. Um dos passageiros, um senhor de idade, desmaiou durante a pane. Os comissários precisaram recorrer ao balão de oxigênio. Eles, apesar de treinados, não acreditavam na situação e pareciam desorientados. Para reforçar as instruções de emergência em casos de problemas com o avião, um dos comissários inseriu novamente a gravação de procedimentos de segurança repassados mundialmente em todos os voos antes das decolagens.
No momento, eu já me desesperava. Não sei se cheguei a gritar ou falar algo durante os intermináveis minutos de voo. Só pensava no pior. Após alguns instantes, o piloto informa a necessidade de um pouso de emergência. O pânico é geral. O passageiro sentado ao meu lado pega o encarte de segurança e começa a estudá-lo como se algo fosse adiantar. A minha vontade era a de pisar em solo firme. Depois da tensão inicial, a sensação é que as turbinas do avião foram desligadas. A aeronave parece entrar em declínio acelerado e constante. O barulho da ativação de uma espécie de complemento das asas, utilizados para frear o avião durante o pouso, é ouvido. O piloto informa sobre a necessidade de pousar o avião naquele exato momento. Nunca pulei de bungee-Jump, mas acredito que a sensação seja a mesma que pude sentir durante a descida do Boeing.
Quase 15 minutos foram gastos para pousar o avião após o informe de que o voo deveria ser interrompido. Sob forte neblina e neve, o avião pousa em Lyon, na França. Ao pousar, a sensação era a de que as asas iriam se chocar contra a pista, tamanha era a instabilidade do avião. Assim que a aeronave pousou equipes de ambulância e “bombeiros” já aguardavam em solo pela chegada do voo. Parecia cena de filme. A aeronave foi rapidamente esvaziada e as pessoas em pânico atendidas no hangar do aeroporto.
Após os momentos de tormento dentro do avião e expectativa fora dele, fomos levados a uma pequena sala do aeroporto de onde não pudemos sair. Como o nosso destino era a Bélgica, não podíamos, do ponto de vista legal, desembarcar na França. Quase uma hora depois do ocorrido um avião da Ryanair foi deslocado para o aeroporto de Lyon para nele embarcarmos e seguirmos viagem ao nosso destino final. Mas, antes da nova e apreensiva decolagem, tivemos que aguardar vários minutos dentro do avião até que o plano de voo fosse aprovado pelas autoridades que cuidam do tráfego aéreo na região.
Cinco e meia da tarde. A decolagem rumo a Bélgica é novamente realizada. Após 30 minutos, chegamos no aeroporto de Charleroi. Os quatro passageiros que precisaram de atendimento médico ficaram na França e foram encaminhados para o hospital. A chegada no destino foi emocionante. Com forte aplauso todos comemoravam são e salvos o feliz desfecho de uma quase tragédia.
P.S.: Optei nesta postagem pela mistura de passado / presente. Por isso, as conjugações verbais estão deslocadas. Acredito que, assim, a narração ficaria mais próxima do ocorrido.
P.S2.: De acordo com as novas regras ortográficas do português, que começaram a vigorar a partir do dia 01 de janeiro deste ano, palavras paroxítonas terminadas em "eem" e "oo" perdem o acento circunflexo. Por esse motivo, a grafia da palavra VOO (sem acento) está correta, segundo as novas regras.
3 comentários:
Nossa senhora!!! que começo de ano hein Ailton!!!
Chega de emoção por agora né??? Bjusss
Chega de emoção! :D Ao menos, passei no teste de coração... O meu aguenta fortes emoções.. ehehe
Isa, cadê o seu blog?! Não consigo abrí-lo mais... Bisous!
tudo na vida é passageiro, menos comissário de voo e piloto de avião! :D
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