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domingo, 25 de janeiro de 2009

Quinto mês - O tempo não para!

Cinco meses atrás, no dia 25 de agosto de 2008, desembarcava no aeroporto de Bruxelas, na Bélgica, com três bagagens, sendo duas grandes e uma pequena. O dia, batizado por mim como “Tired Day”, será sempre recordado. Um sergipano, radicado em Goiânia, por isso, mais goiano que sergipano, pela primeira vez viajando ao exterior, sem falar a língua francesa, salvo exceção das palavras “Oui, Bonjour et Merci Beaucoup”, só tinha uma meta naquele 25 de agosto: chegar na cidade de Liège, distante 100 kilômetros da capital e, finalmente, respirar.

No dia do desembarque, era precisar correr contra o tempo. Além de chegar três horas após o previsto, devido atraso do voo de Madrid, na Espanha, para Bruxelas, na Bélgica, estava desprovido de qualquer conhecimento da região, salvo um papel impresso na página do Google Maps que indicava o trajeto da estação de trem de Liége ao albergue da cidade, onde me hospedaria até encontrar uma moradia. O meu único temor era chegar ao destino depois do pôr-do-sol.

A ansiedade era tamanha que após ter embarcado no trem que me levaria da estação central de Bruxelas à estação central de Liége passei a me comportar como o famoso personagem do desenho animado do filme Shrek, o Burro. A cada parada do Trem questionava outros passageiros se a estação em que havíamos chegado era a estação de Liège. Não me recordo exatamente quantas paradas o trem realizou, mas lembro que cheguei a perguntar mais de seis vezes se o trem já havia chegado ao meu destino.

Cinco meses passaram, desde a minha chegada, e muitas coisas mudaram. O conhecimento da língua francesa evoluiu bastante e, às vezes, quase acredito ter me tornado um cidadão belga. A cultura, os costumes e o clima local já não me assustam mais. Minha declaração confirma o que vários teóricos já disseram: O homem se adapta ao meio. Felizmente, não fugi à regra.

Depois de ter saído do coração do Brasil, Goiânia, e ter conseguido chegar no coração da Bélgica, Liége, me vejo preparado para “desbravar” qualquer canto do mundo. O sucesso do desbravamento depende de três elementos básicos: Passaporte no bolso, roupa na mochila e mapa em mãos. É portando esses elementos que embarco no próximo dia 28 rumo a Portugal. Serei um colonizado a caminho de desbravar a terra do Colonizador.

Ao retornar da "conquista", certamente, postarei aqui as impressões que tive de Portugal, país historicamente conhecido como o responsável pelo "descobrimento" do Brasil. Às vezes, as aspas dizem muito mais que um suspiro e uma palavra...

À tantôt!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Faits Divers – quando a violência é a principal MANCHETE dos jornais;

O estudo para a prova de Teorias e Análise da Informação, em francês, para conceder um pouco mais de glamour à disciplina, Theories et Analyse de l’information, foi interessante para eu notar que vários dos jornais veiculados na Bélgica se aproximam dos periódicos brasileiros, no que diz respeito à forma de tratamento dos temas relacionados à violência urbana.

A editoria do jornalismo impresso belga, responsável pela divulgação dos acontecimentos das cidades, recebe o nome de Faits Divers, em português, Fatos Diversos. Tanto aqui, quanto no Brasil, a violência é um produto jornalístico tratado da mesma forma. A diferença é que os personagens não são os mesmos, a cena e o local das tragédias são outras, mas a narração, que privilegia a estereotipização dos personagens e a espetacularização do acontecimento, é única. Esta é a comprovação de que o espetáculo da violência possui um enredo universal nas páginas dos jornais.

Muito aprendi ao estudar para o exame de hoje. Apesar de ter saído frustrado, por não ter tido tempo suficiente para responder a todas as questões discursivas, sei que as leituras sobre o tema valeram a pena. Valeram tanto que motivaram o tema desta postagem. Coisas ditas em sala de aula, citações feitas pelo professor e anotadas em blocos de papel foram trazidas às claras durante a releitura de textos e anotações.

Os fatos diversos, na definição do “Monsieur” Pascal Durand, diga-se de passagem, um célebre professor da área de Comunicação e Informação da Universidade de Liége, que possui vasto conhecimento sobre jornalismo, “é uma exposição pública da vida privada”. O professor vai além e diz que o que atrai leitores aos jornais são os fatos diversos. Para a maioria do público, pouco importa a cotação do euro e do dólar, os conflitos internacionais e outros temas gerais estampados nas folhas dos periódicos.

O que, na verdade, atrai o leitor são as notícias do assassinato da enfermeira, da esposa espancada pelo marido durante quinze anos, da grávida de sete meses degolada por um assaltante, da mulher estrangulada e pendurada em praça pública, do assassinato de uma criança de cinco anos cometido pelo pai que, em seguida, se suicidou, do horror ao fundo do jardim de uma casa, onde bebês eram mortos e enterrados, e, para completar os assuntos de terror "em cartaz" nos jornais da Bélgica nos últimos anos, a morte de um médico que foi estrangulado pelo próprio paciente. Os títulos mencionados estiveram presentes nas manchetes dos jornais belgas e seus textos foram analisados em sala de aula durante o curso. Qualquer semelhança dos fatos com alguma notícia já lida em outros jornais, seja ele de onde for, NÃO é mera coincidência. A brutalidade do homem é universal e o jornalismo não poderia ser diferente.

Assuntos como esses, que atraem leitores para os jornais, anestesiam a opinião pública e alimentam a inquietude de uma gama de leitores sempre a fim de saber o que aconteceu “na casa ao lado”. Como a violência vende e vende muito, os jornais não têm outra escolha. Por isso, os textos que tratam sobre os “fatos diversos” ganham notoriedade nas páginas e recebem uma atenção especial de quem os escreve. Mesmo o leitor tendo a concepção do “já li”, “já vi”, ele ainda se interessa pelo assunto. Nos fatos diversos, a novidade é sempre a mesma. Talvez isso explique o porquê dos clichês encontrados em textos encaixados nesta categoria. Ao cederem espaço aos Faits Divers, os jornais perpetuam o seu caráter cotidiano e mostram ao público sua espetacular faceta dramatúrgica.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Escócia EXISTE!

Escócia. Pensei que este fosse um país tão distante que seria impossível, mesmo residindo temporariamente na Europa, poder conhecê-lo. É verdade que o fato de eu ter viajado pelo país durante cinco dias não me faz um conhecedor de toda a Escócia. Muito mais difícil que desembarcar no país, é viajar por ele. Os valores das tarifas de ônibus e trens são caros. Mas para aqueles que preferem um turismo alternativo, sendo este uma espécie de turismo em que economizar é a primeira palavra de ordem, vale a pena perder tempo sentado numa poltrona de ônibus e conhecer o país percorrendo as estradas, do que pagar um valor ainda mais caro de trem e seguir todo o trecho em linha reta passando somente em meio às áreas rurais das cidades.

Antes de viajar para a Escócia, o único conhecimento que tinha do país era a do costume dos homens usarem saias. Estava eu em uma loja para comprar algo que recordasse minha visita ao país e sou questionado pelo vendedor. Ele me oferta por 20 libras uma saia típica da Escócia. Pensei. Se meus estudos fossem lá, certamente, faria a graça de voltar ao Brasil, trajado de escocês. Mas como usar saias no meu país não é tão típico para homens e meus estudos são na Bélgica, achei mais sensato recusar a oferta e optar pela compra de outro produto.

Minha escolha em passar o réveillon na Escócia foi fruto de uma imensa vontade de viajar e fugir do frio polar da Bélgica, ultimamente com mínimas de 18 graus negativos e máximas de três graus também negativos. Depois de perder a reserva de passagens para Noruega para onde, até então, pretendia viajar na passagem de ano e não encontrar passagens em conta para a Dinamarca, fui tentado, graças a uma oferta de última hora da companhia aérea Ryanair, a arrumar as malas e embarcar rumo ao país do Wisky.

Não me arrependo pela escolha de última hora. Apesar de ter ido sozinho, aproveitei cada instante nas três cidades que percorri durante o tour pelo país do Reino Unido. Viajar só, o que não é nada anormal por aqui, só tem uma desvantagem. As poses para as fotos ficam as mesmas. Nem sempre há pessoas dispostas ou presentes nos locais visitados para prestar o favor de um click.

Comecei minha viagem pela Escócia, desembarcando em Prestwick, cidade sede do aeroporto. De imediato, após o desembarque, segui para Glasgow, segunda maior cidade da Escócia. Famosa pela George Square e pelas catedrais, Glasgow foi onde passei a virada de ano e o maior frio da minha vida. Sem reservas para hostel na virada do dia 31 para o dia 01, a alternativa, após o “fuzuê” da virada, foi me abrigar na Estação de ônibus da cidade com outros dois russos que se encontravam na mesma situação.

No dia 02, sexta-feira, embarquei rumo a capital do país, Edimburgo. Talvez, um dos lugares mais belos que já visitei. A chegada na cidade foi inesquecível, tamanha beleza do lugar. Os turistas são brindados com uma imagem do castelo mais famoso da Escócia logo que chegam. Foi a imagem de boas-vindas mais bonitas que já vi ao chegar numa cidade. Geralmente, as “surpresas” turísticas das cidades ficam meio que escondidas. É preciso se orientar por um mapa até chegar a elas. Em Edimburgo, não! O cartão mais importante da cidade dá as boas-vindas aos visitantes.

Na capital do país, as construções são colírios para os olhos. Elas têm arquiteturas que até os próprios arquitetos devem duvidar. Os prédios são imponentes, construídos com detalhes. É impossível não resistir a um tour pelo centro antigo da cidade e respirar, também, um pouco da história das guerras e disputas tidas no país. Outra parada obrigatória em Edimburgo é visitar o cemitério mais antigo da Escócia. Grande emoção ao pisar em solo onde pessoas que batalharam em guerras conhecidas historicamente estão sepultadas.

Uma dica ao viajar pela Escócia! Não visitem a cidade de Dundee. Deixei de fazer um tour pelas Highlands escocesas e conhecer os mitos dos Bárbaros e do Loch Ness para visitar a cidade localizada ao extremo sudeste do país. Conclusão! A cidade parecia deserta, sem atrações turísticas. Resultado! Fiquei sem grana para fazer ao menos um dia de Highlands, porque meu dinheiro foi gasto com a cara passagem de ida e volta a Dundee (35 libras) e com o hostel (15 libras). Se um dia voltar a Escócia, voltarei somente para viajar pelas Highlands, áreas mais altas do país e pouco habitadas e, por isso, cercada de grandes lendas e mitos.

See you soon again Scotland! :D

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Terror nas Alturas

Segunda-feira, 05 de janeiro de 2009. 10 da manhã. Os painéis do aeroporto de Glasgow anunciam a abertura do Check-in para os passageiros do voo Ryanair 7924 com destino ao aeroporto de Charleroi, na Bélgica. Depois de ser submetido aos criteriosos procedimentos de segurança que antecedem o embarque, às vezes exagerados até demais, eu e os outros 189 passageiros seguimos para o portão de embarque até que fosse confirmado o horário do voo, previsto para o meio-dia.

Meio-dia e meia. Os painéis informam atraso do voo 7924 e sinalizam que o embarque fora adiado por uma hora. Pontualmente, a uma da tarde é feito o embarque de todos os passageiros do voo e o avião decola rumo a Bélgica. O tempo estimado de voo entre a Escócia e a Bélgica é de uma hora e trinta minutos. No entanto, o voo programado para a tarde do dia 05 foi de quatro horas, com uma conexão imprevista num aeroporto francês.

Tudo na viagem seguia bem até o início da venda do Bingo Ryanair. É típico nos voos das companhias Low Cost da Europa a comercialização de vários produtos durante o itinerário aéreo. Durante os voos, de tudo um pouco é vendido. Após o lanche, que também é comprado pelo passageiro, começa a venda de perfumes, cremes e bilhetes da sorte. Enquanto uma gravação hiper-animada falava sobre o valor dos prêmios em dinheiro que poderiam ser ganhos com a compra da cartela, um comissário de voo passava sorridente pelo corredor da aeronave ofertando os bilhetes.

O comissário ainda nem havia chegado no meio da aeronave quando todos sentiram as primeiras turbulências. A chefe de voo informou se tratar de uma área de instabilidade e orientou a todos para que permanecessem sentados e com os cintos afivelados. A orientação foi seguida, mas as trepidações começaram a ser frequentes e com mais intensidade. Olho pela janela. Estávamos sobrevoando a uma elevada altitude que era possível ver as nuvens em baixo do Boeing. O avião passa a perder estabilidade. Olho para o outro lado e vejo que os demais passageiros perceberam algo de anormal no voo. As trepidações eram tão fortes que parecíamos estar dentro de um "chocalho".

Da cabine, o piloto reforça a orientação de permanecermos sentados e com os cintos de segurança. Ele apenas introduz uma nova palavra durante a fala. Ele pede calma aos passageiros. Algumas pessoas começam a se desesperar. Um dos passageiros, um senhor de idade, desmaiou durante a pane. Os comissários precisaram recorrer ao balão de oxigênio. Eles, apesar de treinados, não acreditavam na situação e pareciam desorientados. Para reforçar as instruções de emergência em casos de problemas com o avião, um dos comissários inseriu novamente a gravação de procedimentos de segurança repassados mundialmente em todos os voos antes das decolagens.

No momento, eu já me desesperava. Não sei se cheguei a gritar ou falar algo durante os intermináveis minutos de voo. Só pensava no pior. Após alguns instantes, o piloto informa a necessidade de um pouso de emergência. O pânico é geral. O passageiro sentado ao meu lado pega o encarte de segurança e começa a estudá-lo como se algo fosse adiantar. A minha vontade era a de pisar em solo firme. Depois da tensão inicial, a sensação é que as turbinas do avião foram desligadas. A aeronave parece entrar em declínio acelerado e constante. O barulho da ativação de uma espécie de complemento das asas, utilizados para frear o avião durante o pouso, é ouvido. O piloto informa sobre a necessidade de pousar o avião naquele exato momento. Nunca pulei de bungee-Jump, mas acredito que a sensação seja a mesma que pude sentir durante a descida do Boeing.

Quase 15 minutos foram gastos para pousar o avião após o informe de que o voo deveria ser interrompido. Sob forte neblina e neve, o avião pousa em Lyon, na França. Ao pousar, a sensação era a de que as asas iriam se chocar contra a pista, tamanha era a instabilidade do avião. Assim que a aeronave pousou equipes de ambulância e “bombeiros” já aguardavam em solo pela chegada do voo. Parecia cena de filme. A aeronave foi rapidamente esvaziada e as pessoas em pânico atendidas no hangar do aeroporto.

Após os momentos de tormento dentro do avião e expectativa fora dele, fomos levados a uma pequena sala do aeroporto de onde não pudemos sair. Como o nosso destino era a Bélgica, não podíamos, do ponto de vista legal, desembarcar na França. Quase uma hora depois do ocorrido um avião da Ryanair foi deslocado para o aeroporto de Lyon para nele embarcarmos e seguirmos viagem ao nosso destino final. Mas, antes da nova e apreensiva decolagem, tivemos que aguardar vários minutos dentro do avião até que o plano de voo fosse aprovado pelas autoridades que cuidam do tráfego aéreo na região.

Cinco e meia da tarde. A decolagem rumo a Bélgica é novamente realizada. Após 30 minutos, chegamos no aeroporto de Charleroi. Os quatro passageiros que precisaram de atendimento médico ficaram na França e foram encaminhados para o hospital. A chegada no destino foi emocionante. Com forte aplauso todos comemoravam são e salvos o feliz desfecho de uma quase tragédia.

P.S.: Optei nesta postagem pela mistura de passado / presente. Por isso, as conjugações verbais estão deslocadas. Acredito que, assim, a narração ficaria mais próxima do ocorrido.

P.S2.: De acordo com as novas regras ortográficas do português, que começaram a vigorar a partir do dia 01 de janeiro deste ano, palavras paroxítonas terminadas em "eem" e "oo" perdem o acento circunflexo. Por esse motivo, a grafia da palavra VOO (sem acento) está correta, segundo as novas regras.
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