O estudo para a prova de Teorias e Análise da Informação, em francês, para conceder um pouco mais de glamour à disciplina, Theories et Analyse de l’information, foi interessante para eu notar que vários dos jornais veiculados na Bélgica se aproximam dos periódicos brasileiros, no que diz respeito à forma de tratamento dos temas relacionados à violência urbana.
A editoria do jornalismo impresso belga, responsável pela divulgação dos acontecimentos das cidades, recebe o nome de Faits Divers, em português, Fatos Diversos. Tanto aqui, quanto no Brasil, a violência é um produto jornalístico tratado da mesma forma. A diferença é que os personagens não são os mesmos, a cena e o local das tragédias são outras, mas a narração, que privilegia a estereotipização dos personagens e a espetacularização do acontecimento, é única. Esta é a comprovação de que o espetáculo da violência possui um enredo universal nas páginas dos jornais.
Muito aprendi ao estudar para o exame de hoje. Apesar de ter saído frustrado, por não ter tido tempo suficiente para responder a todas as questões discursivas, sei que as leituras sobre o tema valeram a pena. Valeram tanto que motivaram o tema desta postagem. Coisas ditas em sala de aula, citações feitas pelo professor e anotadas em blocos de papel foram trazidas às claras durante a releitura de textos e anotações.
Os fatos diversos, na definição do “Monsieur” Pascal Durand, diga-se de passagem, um célebre professor da área de Comunicação e Informação da Universidade de Liége, que possui vasto conhecimento sobre jornalismo, “é uma exposição pública da vida privada”. O professor vai além e diz que o que atrai leitores aos jornais são os fatos diversos. Para a maioria do público, pouco importa a cotação do euro e do dólar, os conflitos internacionais e outros temas gerais estampados nas folhas dos periódicos.
O que, na verdade, atrai o leitor são as notícias do assassinato da enfermeira, da esposa espancada pelo marido durante quinze anos, da grávida de sete meses degolada por um assaltante, da mulher estrangulada e pendurada em praça pública, do assassinato de uma criança de cinco anos cometido pelo pai que, em seguida, se suicidou, do horror ao fundo do jardim de uma casa, onde bebês eram mortos e enterrados, e, para completar os assuntos de terror "em cartaz" nos jornais da Bélgica nos últimos anos, a morte de um médico que foi estrangulado pelo próprio paciente. Os títulos mencionados estiveram presentes nas manchetes dos jornais belgas e seus textos foram analisados em sala de aula durante o curso. Qualquer semelhança dos fatos com alguma notícia já lida em outros jornais, seja ele de onde for, NÃO é mera coincidência. A brutalidade do homem é universal e o jornalismo não poderia ser diferente.
Assuntos como esses, que atraem leitores para os jornais, anestesiam a opinião pública e alimentam a inquietude de uma gama de leitores sempre a fim de saber o que aconteceu “na casa ao lado”. Como a violência vende e vende muito, os jornais não têm outra escolha. Por isso, os textos que tratam sobre os “fatos diversos” ganham notoriedade nas páginas e recebem uma atenção especial de quem os escreve. Mesmo o leitor tendo a concepção do “já li”, “já vi”, ele ainda se interessa pelo assunto. Nos fatos diversos, a novidade é sempre a mesma. Talvez isso explique o porquê dos clichês encontrados em textos encaixados nesta categoria. Ao cederem espaço aos Faits Divers, os jornais perpetuam o seu caráter cotidiano e mostram ao público sua espetacular faceta dramatúrgica.
Um comentário:
caramba, gostei! interessante saber disso...
acho que as "faits divers" por todo o mundo devem seguir essa mesma linha, não? parece que é do próprio homem dar atenção maior a assuntos ligados à violência... e mais ainda de muitos jornalistas por aí "estereotipar" fatos... (a verdade é que todo mundo gosta da história do mocinho e do vilão!)
parabéns pelo blog!!! gostei dos seus textos
abraço
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