Estava no supermercado. Procurava por feijão, mas não conseguia encontrá-lo à venda nas prateleiras. De súbito, me vejo no parque. Olho para o alto e vejo apenas rastos brancos deixados pelos aviões no céu. Momentos depois, pergunto para um estranho que horas são. Ele me responde: “Pardon, monsieur! Je ne sais pas l'heure, parce que je n'ai pas une montre". Acordo! São quase onze e meia da manhã.
A fala do estranho foi tão marcante que, hoje, o gesto do sinal da cruz feito diariamente ao me levantar foi substituído por uma corrida desesperada em busca de um papel e uma caneta para anotar o que havia escutado em sonho. A simples frase, “Perdão, senhor! Eu não sei que horas são, porque não tenho relógio”, dita em francês, teve para mim, o mesmo efeito de uma revelação divina feita por anjos em sonhos, como narrado em diversos trechos da escritura bíblica.
Este teria sido apenas mais um sonho se o estranho não tivesse falado em francês. Talvez, as teorias de Chomsky, que estudou os processos de aquisição da linguagem, prevejam reações como essas em momentos inesperados, como em sonhos.
Pela primeira vez, em dois meses no exterior, a língua francesa invade o meu inconsciente. Se estivesse no Brasil e pesquisasse pelo significado do sonho, talvez algum charlatão até me diria que seria a possibilidade de uma viagem para fora do país. Mas como já estou em solo estrangeiro, interpreto o fato ocorrido, durante o sonho, como sendo a minha integração a uma das línguas faladas na Bélgica. Inevitavelmente, o francês já faz parte da minha vida.
Considero-me, ainda, em fase de alfabetização na língua francesa. No entanto, já consigo ler e entender textos diversos, comunico o essencial com as pessoas, escrevo frases de grande valia para uma comunicação escrita e já ensaio as primeiras sentenças formais para uma comunicação oral utilizando a língua francesa . Aos poucos, o inglês, língua que tem me dado sustentação para a minha integração ao novo meio, vem sendo substituído pelo francês. Sem perceber, tenho deixado a minha fase bilíngüe para me tornar trilíngüe. Creio que, em breve, poderei ter orgulho de dizer seguramente: Oui, Je parle très bien français!
C'est tout!
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
domingo, 19 de outubro de 2008
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Segunda-feira Vermelha >>> Lundi Rouge
O inesperado aconteceu. É sabido que a Europa, no passado, foi berço de grandes revoluções. Mas, algo me chamou a atenção na manhã desta segunda-feira. Achei estranho ir para a universidade e, ao chegar lá, ver os corredores vazios. Inicialmente, pensei que a causa para tamanha desolação fosse ressaca de alunos e professores. Afinal, segunda-feira é a mãe de todos os oximoros.
Em frente ao auditório, local onde seria ministrada a aula de semiótica visual, apenas oito alunos aguardavam a chegada do professor. Um número pequeno para a quantidade de alunos inscritos na disciplina. Após aguardarmos meia-hora fomos verificar o porquê, até aquele momento, não havíamos tido permissão para entrar no auditório para o início da aula.
Ao me aproximar da sala da coordenadoria do curso, avistei, de imediato, um aviso afixado na porta, ironicamente redigido a caneta vermelha. O aviso dizia que pelo motivo da GREVE dos motoristas de ônibus as aulas haviam sido suspensas no dia de hoje. Uma informação bombástica para quem, até então, acreditava que greve era uma realidade restrita a países de terceiro mundo.
Ao chegar em casa, fui verificar as proporções da greve. Ao acessar o site do periódico mais influente da Bélgica, Le Soir, tive ciência das proporções da paralisação que atingiu hoje todo o país. Tanto as linhas de ônibus, quanto os trens deixaram de funcionar nesta segunda-feira. Os sindicatos realizaram várias movimentações nas mais importantes estações de trem e ônibus da Bélgica.
Em virtude da greve, de acordo com informações da matéria online do jornal Le soir, não só as instituições de ensino pararam. A produção das indústrias e siderúrgicas instaladas no país também foi afetada com a paralisação. Muitos funcionários não conseguiram se deslocar para os locais de trabalho, informa o periódico.
A Greve que parou o país me espanta. Apesar de pequeno, a Bélgica é um dos países mais fortes economicamente da União Européia. Mas a força econômica deste país monárquico não suprimiu as forças do socialismo. Hoje, não foram tapetes vermelhos que ornamentaram as entradas dos palácios da Bélgica. Os tapetes vermelhos foram tomados por bandeiras vermelhas, erguidas por trabalhadores que reivindicavam melhores salários, realçando ainda mais a ornamentação dos imponentes palácios.
A única certeza que tenho depois de acompanhar os fatos é que a força do socialismo em meio à riqueza monárquica da Bélgica assombra qualquer estrangeiro oriundo da parte sul do hemisfério.
Em frente ao auditório, local onde seria ministrada a aula de semiótica visual, apenas oito alunos aguardavam a chegada do professor. Um número pequeno para a quantidade de alunos inscritos na disciplina. Após aguardarmos meia-hora fomos verificar o porquê, até aquele momento, não havíamos tido permissão para entrar no auditório para o início da aula.
Ao me aproximar da sala da coordenadoria do curso, avistei, de imediato, um aviso afixado na porta, ironicamente redigido a caneta vermelha. O aviso dizia que pelo motivo da GREVE dos motoristas de ônibus as aulas haviam sido suspensas no dia de hoje. Uma informação bombástica para quem, até então, acreditava que greve era uma realidade restrita a países de terceiro mundo.
Ao chegar em casa, fui verificar as proporções da greve. Ao acessar o site do periódico mais influente da Bélgica, Le Soir, tive ciência das proporções da paralisação que atingiu hoje todo o país. Tanto as linhas de ônibus, quanto os trens deixaram de funcionar nesta segunda-feira. Os sindicatos realizaram várias movimentações nas mais importantes estações de trem e ônibus da Bélgica.
Em virtude da greve, de acordo com informações da matéria online do jornal Le soir, não só as instituições de ensino pararam. A produção das indústrias e siderúrgicas instaladas no país também foi afetada com a paralisação. Muitos funcionários não conseguiram se deslocar para os locais de trabalho, informa o periódico.
A Greve que parou o país me espanta. Apesar de pequeno, a Bélgica é um dos países mais fortes economicamente da União Européia. Mas a força econômica deste país monárquico não suprimiu as forças do socialismo. Hoje, não foram tapetes vermelhos que ornamentaram as entradas dos palácios da Bélgica. Os tapetes vermelhos foram tomados por bandeiras vermelhas, erguidas por trabalhadores que reivindicavam melhores salários, realçando ainda mais a ornamentação dos imponentes palácios.
A única certeza que tenho depois de acompanhar os fatos é que a força do socialismo em meio à riqueza monárquica da Bélgica assombra qualquer estrangeiro oriundo da parte sul do hemisfério.
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